quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Razão sangrenta sob o desvio do nojo.

O capitalismo a si mesmo se vence até à morte, tanto no plano material como no plano ideal. Quanto maior a brutalidade com que esta calamidade tornada modelo social universal, devasta o mundo, mais ela vai infligindo golpes a torto e direito em si mesma e minando a própria existência. Neste quadro se inscreve também a decadência intelectual das ideologias de outrora, numa ignorância e falta de ideias espantosas: direita e esquerda, progresso e reação, justiça e injustiça coincidem de forma imediata, se tornam uma só coisa nojenta e mentirosa, já que o pensamento nas formas do sistema produtor de mercadorias se paralisou por completo. Quanto mais estúpida se torna a representação intelectual do sujeito do mercado e do dinheiro, mais horroroso fica o seu tagarelar cansativo das apodrecidas virtudes burguesas e dessa lepra exposta que chamam de "valores ocidentais". Não há paisagem do planeta, marcada pela miséria e pelos massacres, sobre a qual não chovam a cântaros lágrimas de crocodilo, de um humanismo policial-democrático; não há vítima desfigurada pela tortura da vida abstrata que não seja usada como pretexto na exaltação das alegrias da individualidade burguesa. Qualquer idiota a soldo do estado, que se esforça por escrever umas linhas, invoca a democracia ateniense; qualquer patife ambicioso, parasita político ou da ciência, pretende bronzear-se à luz do iluminismo falido.
Agora, o que ainda quiser ser chamado de crítica radical só pode distanciar-se com raiva e nojo de todo o lixo intelectual do Ocidente. Tem que ser de uma radicalidade tal que destrua a auto-legitimação iluminista até a poeira dos ossos. Para traidores não há desprezo suficiente.
Na "guerra santa", na cruzada contra os monstros por ele próprio criados, num mundo por ele próprio devastado e barbarizado pela via do terror econômico, o espírito-zumbi do capitalismo esclarecido agora só pode assumir a forma de caças-bombardeiros americanos e tanques israelenses democratizando a morte em cada disparo "humanitário".
Os que vão à TV pedir uma morte mais digna, o papa, Bono Vox, estrelas de cinema, políticos-vedetes e demais pilantras do circo midiático, encontram eco mundo afora e qualquer imbecil agora se torna especialista em auto-engano. E isso já não é mais nem trágico, nem ridículo, é simplesmente nojento.
O que dá à luz ao monstro da auto-aniquilação "democrática" global, é a recusa em morrer do pavoroso sujeito burguês, afogado na imundície do vômito consumista que se faz ouvir sob a forma de grunhidos de porco, inarticulados e malignos diante da massa de mortos-vivos autistas famintos por produtos de marca, a multidão catatônica da religião do consumo, sua bizarra personificação coletiva.
Os que não foram ainda arrastados pela correnteza do esgoto burguês aprendam com os ratos q não tem ilusões quanto a fugir do escuro, mas pelo menos se mantém à margem de todas as porcarias que passam veloz ao seu lado.

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