quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Canção da lebre



"Quando o tiro vem, cair fingindo de morta, juntar todas as suas forças e refletir, se ainda tiver fôlego, dar o fora".


As voltas que o mundo dá deixam os anjos na contramão.
As vezes a compreensão das coisas não pousa, colide.
A capacidade para o medo e a capacidade para a felicidade são a mesma: um mar sem fim, que chega à renúncia do próprio ego (esse lixo do desejo) na qual o que sucumbe se reencontra.
O que seria a felicidade que não se medisse pela infinita tristeza com o que existe ?
Pois o curso do mundo está transtornado. Quem por precaução a ele se adapta, torna-se por isso mesmo um participante da loucura, entusiasmado com o vazio que o engoliu. Não há então nenhum consolo além da lição contida na Canção da lebre, que celebra a astúcia leporina: diante do desespero da morte quase certa, ela se faz de morta para continuar viva, em pleno pavor constrói um ponto de fuga rumo à vida.

Olho para todos os lados, nem sombra daquela que venceu a embriaguez de absinto da vida em ruínas.
Só ela seria capaz de refletir sobre o ilusório do desastre...

*droga
:/

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