domingo, 24 de fevereiro de 2008

Gotterdammerüng

E alguém testemunhou solene certa vez em um lugar: "O que é o homem para que te aflija com ele? não é este um bordão de cana esmagada?
um pouco mais que pó o fizeste e no entanto tudo a ele tornaste sujeito?
Agora porém, não vemos ainda tudo que lhe está sujeito." (Hebreus do Hebrom))



nas ranhuras do pensar pousaram as sensações que eu tinha ouvido dizer.
"Entre os homens só se falava dar dor e da morte mas nunca da promessa de imortalidade".
Olhei com segunda atenção e vi.
Vi (porque estavam mais perto) os cristãos pelo avesso, vampiros do próprio corpo, de um corpo já ferido, de uma psique esmagada:
eu perguntei a eles sobre aquela antiga fidelidade - "Nós fumamos, nos embriagamos, muito trepamos e nos entorpecemos para outra vez tudo recomeçar" - responderam em únissimo.
(nos julga inaceitáveis?)
e ficaram por lá, lá onde serão encontrados
eu vi os surdos, coxos e cegos de espírito. Os que comem sangue morto. Vi o luxo de seus ambientes, o embuste de suas cerimônias e o mesmo sedento desespero de existir que tinha visto em seus inimigos.
vi os trabalhadores do mundo. seguiam se renegando sem parar mesmo depois que os deixei. Lá admirando as flores que estão sobre suas correntes. lá sem perceber que engordam seus captores. Lá sem perceber que estão no exílio de uma terra que ainda virá.
vi os perdidos. os mais pobres entre os pobres, os mais afastados da forma humana. os que se escondem na própria humilhação. Onde a dor do homem destruído descreve uma reta que sobe.
e vi que os filhos estavam sendo destruídos.
por eles mesmos dessa vez.
Vi um campo, uma tempestade quieta.
Uma colheita.

(*quando estiver sonhando tente olhar para a palma da mão. Depois repare no que acontece.)

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